Quando pequenino lembro-me dos festejos juninos num lugarejo chamado Palmeira – interior da Bahia, Cidade de Rio Real – lugar pacato, gente trabalhadora em sua grande maioria agricultores. Sem energia elétrica, com água de cacimba e banho de cuia, um lugar inesquecível, quando ia para lá, dizia que estava indo “pra roça”. Terra de minha genitora, cantinho de minha avó, lugar, onde adorava passar férias.
Lá o são João era animado, a criançada solta nas ruelas escuras - ainda sinto aquele cheiro de bosta de cavalo espalhada na estrada – vestidos de chita e roupas com retalhos de panos coloridos, fogueiras, fogos, quadrilhas juninas e o místico casamento matuto era gostoso sentir aquele som brando que entoava Luiz Gonzaga e misturado aos gritos e falatórios da gente daquele lugar recheados de alegria e muita integração, a cada música, a cada forró, uma história e assim em cada casa um cantinho de São João uma explosão de alegria, uma família em festa.
Enquanto os adultos ralavam o bucho e tomavam quentão, vinho e pinga para a molecada eram oferecidas as iguarias de uma festa junina; milho assado, cozido, pamonha, bolo de milho e claro que não podia faltar à velha galinha caipira feita com tempero especial e de sabor indiscutível.
Lá para as tantas, próximo da hora de gente pequena dormir já se via namoricos e burburinhos em meio aos cheios da marvada. O clima era de total descontração e felicidade a festa entrava pela madruga e como dizia os mais velhos “e o forró cumia no centro”. No dia seguinte, com a fogueira queimando a fogo baixo ainda era possível encontrar os perdidos da festa, aqueles que não conseguiram encontrar a sua noiva ou dançaram com a pinga a noite toda. Mais o saldo era positivo. Muita ressaca, namoros de são João e muita resenha, sem dizer que o forró, xote, baião e cantigas de roda continuavam ainda embalando a festa como se estivesse mesmo que de forma tímida começando naquele instante. Ainda era São João.
Sinto falta do velho trio: sanfona, zabumba e triângulo. Do forró pé-de-serra das músicas que fala histórias de gente simples, lugares poéticos e seus costumes. Bem diferente do ontem, o festejo junino vem perdendo sua característica original, pouquíssimos forrozeiros e sem nenhum protagonismo cultural, a festa, virou palanque eleitoreiro e o forró de hoje é de “plástico” – como disse o Cantor e Secretário Estadual de Cultura da Paraíba, Chico César.
Este “forró de plástico” cantado hoje é o retrocesso de um povo e não representa a essência de nossa cultura. O arrasta pé de ontem foi trocado, por mulheres seminuas com coreografias acrobáticas que não quer dizer nada para nós, que só incentiva a nossa juventude a beber, usar droga e a buscar sexo sem o mínimo de segurança.
As musicas são sempre as mesmas, as letras não tem sentido algum e quase sempre incentivando os excessos e como de costume, no final a violência é sempre uma presença marcante. Resgatar nossos valores regionais com a prática do simples, com a participação de todos e ensinarmos para nossos filhos que nem sempre precisamos “abrir a mala e soltar o som” nem tão pouco ser “raparigueiros” ou o " rei da putaria”.
Precisamos sim, consumir e valorizar os artistas da terra e fortalecer ainda mais nossa cultura regional!
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2 comentários:
estou fazendo meu trabalho de tcc sobre forró, gostaria de sua ajuda preciso de outros artigos cientifícos conto com sua ajuda envie ao meu email
leolandamiranda@gmail.com
estou fazendo meu trabalho de tcc, sobre a forró para onsciencia corporal em crianças naescola.
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